Conselho Nacional de Técnicos em Radiologia (CONTER) homenageia o
carioca Amilton Guerra Vieira, um dos primeiros Operadores de raios X do
Brasil. O pioneiro veio para Brasília no início da década de 1960 e
ajudou a difundir tecnologias de diagnóstico por imagem em todo o
Centro-Oeste.
Neste Dia Nacional dos Profissionais
das Técnicas Radiológicas, comemorado em 8 de novembro de 2012, o
Conselho Nacional de Técnicos em Radiologia (CONTER) presta homenagem a
um dos primeiros operadores da raios X do Brasil, com a exibição do
filme RADIOLOGIA Minha Vida. Para assistir, acesse
www.conter.gov.br/minhavida.
O personagem central da obra é o
carioca Amilton Guerra Vieira, um dos primeiros operadores de raios X do
Brasil. De acordo com a presidenta do CONTER, Valdelice Teodoro, na
figura desse personagem a instituição estende sua homenagem a todos os
precursores da profissão, que enfrentaram os desafios de exercer uma
atividade desconhecida e altamente insalubre, pelo bem da sociedade
brasileira, numa época em que havia pouca informação sobre a tecnologia.
Amilton Guerra Vieira nasceu
em 11 de abril de 1925, numa cidade chamada Natividade, no Estado do Rio
de Janeiro. É filho de Anelson Vieira de Carvalho e Ana Guerra Vieira. O
pai morreu quando Amilton tinha apenas dois anos de idade e o destino o
levou, junto com a mãe, para a casa de seu avô materno. “Meu avô era
fazendeiro, mas perdeu tudo na crise de 1929. Ele me criou, junto com
minha mãe. Não senti muito a perda do meu pai, pois a casa estava sempre
cheia, morávamos mais de 20 parentes juntos”, conta.
Nosso personagem estudou na roça até a
quarta série e, depois, se mudou para a cidade do Rio de Janeiro, onde
fez o que hoje conhecemos por ensino médio. Durante a gravação do
documentário RADIOLOGIA – Minha Vida, Amilton se emocionou muito ao lembrar da educadora que lhe ensinou as primeiras lições, a professora Josefina.
Amilton começou a vida profissional
como telégrafo, foi promotor de vendas e se tornou protético, aquele
profissional que faz dentaduras. Foi num laboratório que tinha em
sociedade com um amigo que viu a vida mudar de uma hora para outra.
Num belo dia do final da década de 1950
apareceu um sujeito para consertar a dentadura no laboratório do seu
Amilton. “Lembro do dia que conheci essa pessoa, foi um episódio que
mudou minha vida. Enquanto conversávamos, ele me perguntou se eu tinha
interesse em aprender Radiologia. Disse que o doutor João Cabral estava
dando o curso no Hospital do Câncer e era uma grande oportunidade de
crescimento. Eu refleti sobre aquilo e resolvi fazer o curso. Trabalhava
de dia e estudava à noite, era uma correria. Detalhe: não tinha
dinheiro para pagar, fiz o curso de graça”, lembra.
O mesmo doutor João Cabral, que lhe
ensinou as técnicas radiológicas, lhe arrumou também o primeiro emprego
na área, no Hospital do Câncer, seis meses depois do curso. Tudo estava
tranquilo quando, no início da década de 1960, uma nova pessoa surge no
caminho e muda tudo outra vez.
“Conheci um amigo que se chamava Irã
Cunha, ele mexia com abreugrafia. Ele me falou sobre Brasília e
perguntou se eu tinha vontade de ir para lá, trabalhar. Respondi que
iria naquele momento mesmo se fosse possível. A ideia de ir para a
capital do Brasil, que acabara de ser construída, me seduzia. Eu fui”,
relata.
Em marco de 1960, Amilton tirou férias e
foi conhecer Brasília. Chegou e já começou a trabalhar com Radiologia.
Depois de trinta dias voltou ao Rio de Janeiro, para retomar sua vida
habitual. Contudo, em junho seguinte, recebeu uma oferta formal de
emprego e se mudou de vez para a nova capital do Brasil, para trabalhar
no Hospital de Base, um dos principais hospitais públicos do país.
“Quando cheguei só tinha o primeiro
andar construído. Eu morava no hospital, no andar de cima. Na medida em
que a construção avançava, nós subíamos para o andar imediatamente
superior e assim íamos vivendo”, lembra. Além do Hospital de Base,
Amilton também trabalhou no Hospital Sarah Kubitschek, onde atuou também
como professor, na formação de dezenas de profissionais.
“Se procurar você vai encontrar muitos
profissionais formados que passaram pela minha mão. Alguns hoje em dia
são juízes, médicos etc. Como meu conhecimento naquela época era pouco,
tive que me virar. Procurei livros especializados e só tinha em francês e
inglês. Então, tinha que pedir auxílio dos outros para traduzir coisas
que ninguém sabia e eu tinha que saber para passar a frente e formar
profissionais melhores que eu era”, pontua.
Amilton relata que a sua carreira, que
durou até 1986, sempre foi conduzida com seriedade, mas sem abrir mão do
bom humor. “No hospital, tudo era alegria. Sentia-me na obrigação de
ser feliz e bem humorado. Tinha doente que só queria atender comigo. As
pessoas precisavam de mim, não só como profissional, mas, também, como
ser humano. Nunca deixei um plantão. Sempre cumpri meu dever”, finaliza.
De acordo com a presidenta do CONTER,
Valdelice Teodoro, a reflexão sobre a história permite analisar com
propriedade o processo de evolução da Radiologia no Brasil.
Principalmente, se os personagens e atores sociais forem o pano de fundo
dessa narrativa. “A história dessa ciência é muito rica e o Brasil tem
vários personagens vivos, verdadeiros arquivos vivos. No final do ano
passado, durante um congresso do CONTER, homenageamos oito precursores
da Radiologia com a honraria máxima da nossa profissão, a Medalha
Wilhelm Conrad Röntgen. Cada um deles foi responsável por introduzir o
diagnóstico por imagem em uma região do Brasil”, afirma.
A grande batalha
Após a aposentadoria, em 1992, Amilton
se sentia mal. Pressentia que havia algo errado no seu organismo. Após a
realização de uma ecografia no abdome, ele descobriu um câncer no
intestino grosso. Em novembro do mesmo ano, já estava na mesa de
cirurgia. O procedimento inicialmente pareceu um sucesso.
“Após a primeira cirurgia tive
aderência, não passava nada pela alça do meu intestino. Fui para a
segunda cirurgia e o meu intestino foi perfurado. Em janeiro de 1993,
fui para a mesa de operação pela terceira vez. Fiquei hospitalizado
durante oito meses. Quase morri, tive infecção na parede do intestino.
Cheguei a 48 quilos”, relata.
Mas o câncer não foi suficiente para
ceifar a vida de Amilton Guerra Vieira. Ele se curou totalmente em 1994 e
está vivo até hoje, nos dando o prazer dessa história.