quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Homenagem - Ele enxerga o ser humano por dentro

Conselho Nacional de Técnicos em Radiologia (CONTER) homenageia o carioca Amilton Guerra Vieira, um dos primeiros Operadores de raios X do Brasil. O pioneiro veio para Brasília no início da década de 1960 e ajudou a difundir tecnologias de diagnóstico por imagem em todo o Centro-Oeste. 

Neste Dia Nacional dos Profissionais das Técnicas Radiológicas, comemorado em 8 de novembro de 2012, o Conselho Nacional de Técnicos em Radiologia (CONTER) presta homenagem a um dos primeiros operadores da raios X do Brasil, com a exibição do filme RADIOLOGIA Minha Vida. Para assistir, acesse www.conter.gov.br/minhavida.
O personagem central da obra é o carioca Amilton Guerra Vieira, um dos primeiros operadores de raios X do Brasil. De acordo com a presidenta do CONTER, Valdelice Teodoro, na figura desse personagem a instituição estende sua homenagem a todos os precursores da profissão, que enfrentaram os desafios de exercer uma atividade desconhecida e altamente insalubre, pelo bem da sociedade brasileira, numa época em que havia pouca informação sobre a tecnologia.
Amilton Guerra Vieira nasceu em 11 de abril de 1925, numa cidade chamada Natividade, no Estado do Rio de Janeiro. É filho de Anelson Vieira de Carvalho e Ana Guerra Vieira. O pai morreu quando Amilton tinha apenas dois anos de idade e o destino o levou, junto com a mãe, para a casa de seu avô materno. “Meu avô era fazendeiro, mas perdeu tudo na crise de 1929. Ele me criou, junto com minha mãe. Não senti muito a perda do meu pai, pois a casa estava sempre cheia, morávamos mais de 20 parentes juntos”, conta.
Nosso personagem estudou na roça até a quarta série e, depois, se mudou para a cidade do Rio de Janeiro, onde fez o que hoje conhecemos por ensino médio. Durante a gravação do documentário RADIOLOGIA – Minha Vida, Amilton se emocionou muito ao lembrar da educadora que lhe ensinou as primeiras lições, a professora Josefina.
Amilton começou a vida profissional como telégrafo, foi promotor de vendas e se tornou protético, aquele profissional que faz dentaduras. Foi num laboratório que tinha em sociedade com um amigo que viu a vida mudar de uma hora para outra.
Num belo dia do final da década de 1950 apareceu um sujeito para consertar a dentadura no laboratório do seu Amilton. “Lembro do dia que conheci essa pessoa, foi um episódio que mudou minha vida. Enquanto conversávamos, ele me perguntou se eu tinha interesse em aprender Radiologia. Disse que o doutor João Cabral estava dando o curso no Hospital do Câncer e era uma grande oportunidade de crescimento. Eu refleti sobre aquilo e resolvi fazer o curso. Trabalhava de dia e estudava à noite, era uma correria. Detalhe: não tinha dinheiro para pagar, fiz o curso de graça”, lembra.
O mesmo doutor João Cabral, que lhe ensinou as técnicas radiológicas, lhe arrumou também o primeiro emprego na área, no Hospital do Câncer, seis meses depois do curso. Tudo estava tranquilo quando, no início da década de 1960, uma nova pessoa surge no caminho e muda tudo outra vez.
“Conheci um amigo que se chamava Irã Cunha, ele mexia com abreugrafia. Ele me falou sobre Brasília e perguntou se eu tinha vontade de ir para lá, trabalhar. Respondi que iria naquele momento mesmo se fosse possível. A ideia de ir para a capital do Brasil, que acabara de ser construída, me seduzia. Eu fui”, relata.
Em marco de 1960, Amilton tirou férias e foi conhecer Brasília. Chegou e já começou a trabalhar com Radiologia. Depois de trinta dias voltou ao Rio de Janeiro, para retomar sua vida habitual. Contudo, em junho seguinte, recebeu uma oferta formal de emprego e se mudou de vez para a nova capital do Brasil, para trabalhar no Hospital de Base, um dos principais hospitais públicos do país.
“Quando cheguei só tinha o primeiro andar construído. Eu morava no hospital, no andar de cima. Na medida em que a construção avançava, nós subíamos para o andar imediatamente superior e assim íamos vivendo”, lembra. Além do Hospital de Base, Amilton também trabalhou no Hospital Sarah Kubitschek, onde atuou também como professor, na formação de dezenas de profissionais.
“Se procurar você vai encontrar muitos profissionais formados que passaram pela minha mão. Alguns hoje em dia são juízes, médicos etc. Como meu conhecimento naquela época era pouco, tive que me virar. Procurei livros especializados e só tinha em francês e inglês. Então, tinha que pedir auxílio dos outros para traduzir coisas que ninguém sabia e eu tinha que saber para passar a frente e formar profissionais melhores que eu era”, pontua.
Amilton relata que a sua carreira, que durou até 1986, sempre foi conduzida com seriedade, mas sem abrir mão do bom humor. “No hospital, tudo era alegria. Sentia-me na obrigação de ser feliz e bem humorado. Tinha doente que só queria atender comigo. As pessoas precisavam de mim, não só como profissional, mas, também, como ser humano. Nunca deixei um plantão. Sempre cumpri meu dever”, finaliza.
De acordo com a presidenta do CONTER, Valdelice Teodoro, a reflexão sobre a história permite analisar com propriedade o processo de evolução da Radiologia no Brasil. Principalmente, se os personagens e atores sociais forem o pano de fundo dessa narrativa. “A história dessa ciência é muito rica e o Brasil tem vários personagens vivos, verdadeiros arquivos vivos. No final do ano passado, durante um congresso do CONTER, homenageamos oito precursores da Radiologia com a honraria máxima da nossa profissão, a Medalha Wilhelm Conrad Röntgen. Cada um deles foi responsável por introduzir o diagnóstico por imagem em uma região do Brasil”, afirma.
A grande batalha
Após a aposentadoria, em 1992, Amilton se sentia mal. Pressentia que havia algo errado no seu organismo. Após a realização de uma ecografia no abdome, ele descobriu um câncer no intestino grosso. Em novembro do mesmo ano, já estava na mesa de cirurgia. O procedimento inicialmente pareceu um sucesso.
“Após a primeira cirurgia tive aderência, não passava nada pela alça do meu intestino. Fui para a segunda cirurgia e o meu intestino foi perfurado. Em janeiro de 1993, fui para a mesa de operação pela terceira vez. Fiquei hospitalizado durante oito meses. Quase morri, tive infecção na parede do intestino. Cheguei a 48 quilos”, relata.
Mas o câncer não foi suficiente para ceifar a vida de Amilton Guerra Vieira. Ele se curou totalmente em 1994 e está vivo até hoje, nos dando o prazer dessa história.

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