Um aparelho móvel de raios X foi roubado há sete meses do setor de Radiologia do Hospital Municipal Barata Ribeiro, no bairro da Mangueira. A denúncia anônima, que chegou por meio de uma mensagem no Facebook do JB, informa o número do Inquérito Administrativo instaurado pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) para apurar o caso. No entanto, o grave crime não foi comunicado à Polícia Civil. Funcionários do hospital conversaram com a reportagem do JB e confirmaram o desaparecimento do equipamento e também que eles foram chamados para depor em uma comissão de investigação formada por agentes da prefeitura.
A utilização incorreta de um aparelho de raios X, com dosagens de radiação inadequadas, pode causar danos irreparáveis à saúde de quem está próximo a ele durante o seu manuseio. Dependendo do nível de radiação, a pessoa afetada pode apresentar desde náuseas até desenvolver uma doença grave, como o câncer. O Sindicato dos Médicos do Rio condenou a forma como a Prefeitura do Rio tratou o sumiço da aparelhagem de raios X e vai levar o caso ao conhecimento do Ministério Público do Estado (MPE/RJ). O presidente do sindicato, Jorge Darze, considerou como “negligência” a postura do governo municipal de não avisar a população e as autoridades policiais sobre o furto de um equipamento radioativo.
Segundo um funcionário do Hospital Municipal Barata Ribeiro, a equipe de técnicos do setor de Radiologia foi orientada pelos agentes da prefeitura responsáveis pelas investigações a não comentar o roubo com nenhuma pessoa fora do hospital e manter sigilo sobre o assunto. Ele contou que o aparelho roubado é portátil, de pequeno porte. “Desapareceu, simplesmente desapareceu no final de um plantão noturno. Ninguém tem ideia de quem foi e como aconteceu”, contou o funcionário, acrescentando que o chefe do setor de Radiologia, Antônio Aníbal, prestou depoimentos nos últimos dias, numa das salas da administração do hospital.
Outro funcionário do Barata Ribeiro confirmou as declarações do colega e se disse indignado por ter que prestar vários depoimentos na sindicância interna. “Os funcionários estão revoltados porque estão sendo chamados diversas vezes para contar detalhes de um fato que não presenciamos. O aparelho sumiu e eles nem colocaram outro no lugar, a gente tem que se virar para atender muita gente com poucas máquinas, umas três, no máximo”, disse ele.
O inquérito administrativo de número processual 09/78/000.031/2013 e resolução 742, que investiga o caso, foi publicado no Diário Oficial do Município no dia 15 de julho de 2013. As informações no processo mostram que ele teve início no dia 8 de março, com uma sindicância administrativa e passou pela Comissão de Ética do Trabalho, pela Procuradoria Administrativa, sendo encaminhado ao Gabinete do Secretário de Saúde e retornou para a Comissão de Ética. Em seguida, o processo tramitou pela Superintendência das Comissões de Ética no Trabalho e está atualmente em análise na Comissão Permanente de Inquérito Administrativo.
O presidente do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, Jorge Darze, disse que o governo municipal foi negligente em não comunicar o roubo do aparelho de raios X à sociedade e por não fazer um registro policial. “Esse fato é gravíssimo, porque está ligado ao roubo de um equipamento de radiação ionizante, que pode causar danos à saúde das pessoas e tinha que ser tratado com muita atenção e não omissão. O governo negligenciou o seu papel público de zelar pela saúde do cidadão e preservar o patrimônio público. Essas são duas obrigações constitucionais”, ressaltou. Darze disse que esse comportamento reflete o atual funcionamento da Secretaria Municipal de Saúde, que não é de coerência na solução de assuntos graves, como o roubo do aparelho do hospital e pela sua inércia mediante casos graves. Na semana que vem, o sindicato vai pedir ao Ministério Público Estadual para intervir nas investigações internas do roubo do aparelho de raios X e apurar o que aconteceu no setor de Radiologia da unidade médica e se o crime tem a participação de prestadores de serviço ou servidores do hospital.
A Secretaria Municipal de Saúde se posicionou através de uma nota, afirmando que a direção do Hospital Municipal Barata Ribeiro informou que o furto registrado no local aconteceu há sete meses, em fevereiro, e o caso não traz impacto ao funcionamento atual do hospital. O registro policial e os procedimentos administrativos cabíveis foram realizados na ocasião, conforme legislação. Mas a Polícia Civil do Estado informou que até o momento o hospital não procurou ajuda policial.
Pacientes reclamam da demora no atendimento
Na manhã desta sexta-feira (13/9), pacientes esperavam por hora para realizar exame radiológico no Hospital Barata Ribeiro. O frentista Reinaldo Luiz está há seis meses tentando marcar uma cirurgia no hospital e esperou por mais de três horas para fazer um exame de raios X. “Olha o tamanho dessa fila! Claro que estamos aqui esperando por horas e para fazer um simples raios X, sentindo dor e ninguém dá nem mesmo uma satisfação para o paciente. A situação neste hospital tá bem complicada”, reclamou o frentista.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, o roubo do Aparelho portátil de raios X não interferiu no atendimento da unidade. “O hospital conta com três aparelhos de raio-x fixos e três móveis para dar suporte ao atendimento dos pacientes, que ocorre normalmente, sem interrupções”, afirma a nota enviada pela SMS. O hospital Barata Ribeiro realiza uma média de quatro mil atendimentos por mês, segundo dados da SMS.
Não importa o tamanho, aparelho de Raio X oferece riscos
O uso do aparelho de raios X, independente das suas especificações, expõe o técnico e o paciente a fontes de artificiais de radiação. Os danos à saúde podem ser maiores se o equipamento radiológico estiver descalibrado, além do seu tempo recomendado para uso ou se o técnico aplicar as doses de radiação de forma inadequada. As explicações são do chefe do Serviço de Radiologia Intervencionista do Hospital Federal dos Servidores, o médico Diogo Aquino, que disse também que o aparelho de raios X só emite qualquer tipo de radiação se ligado à eletricidade e acionado o botão de funcionamento.
O médico radiologista explicou que o aparelho de raios x só emite radiação pela corrente elétrica, diferente do que acontece com os equipamentos de energia nuclear. No entanto, quando acionado o raios x ele atinge às pessoas que estão próximas e é obrigatório o uso dos instrumentos de segurança, como óculos e capotes com placa de chumbo. Outro fator preventivo é a calibragem desse equipamento, que deve ter a dosagem exata de radiação, para não comprometer a saúde. “Esses aparelhos que emitem radiação ionizante devem ser operados por profissionais capacitados, caso contrário, pode causar grandes danos sim”, afirmou Diogo.
O aparelho de raios X tem uma peça fundamental na sua composição e também é a mais cara e visada para revenda. Toda a tecnologia do equipamento é concentrada num tubo, onde acontece o processo de reversão da eletricidade para o raios X. Segundo Diogo, o preço de mercado dessa peça vai de R$ 50 até R$ 500 mil.
A exposição prolongada aos raios X pode ser extremamente danosa ao organismo humano, provocando a destruição de células e levar a mutações genéticas, como acontece com o câncer, ou seja, são processos irreversíveis. Dependendo das doses administradas e o tempo de exposição focados em determinados órgãos, pode até destruí-los. Câncer de pele e leucemia são algumas das muitas doenças provocadas pela radiação ionizante do raios X. As medidas de segurança são fundamentais e obrigatórias para utilização do raios x, com utilização de instrumentos de rádio-proteção, como as blindagens e portas revestidas com chumbo, além dos coletes e óculos especiais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário