terça-feira, 17 de setembro de 2013

Rio de Janeiro - Aparelho portatíl é roubado de hospital e prefeitura não avisa a polícia.

Um aparelho móvel de raios X foi roubado há sete meses do setor de Radiologia do Hospital Municipal Barata Ribeiro, no bairro da Mangueira. A denúncia anônima, que chegou por meio de uma mensagem no Facebook do JB, informa o número do Inquérito Administrativo instaurado pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) para apurar o caso. No entanto, o grave crime não foi comunicado à Polícia Civil. Funcionários do hospital conversaram com a reportagem do JB e confirmaram o desaparecimento do equipamento e também que eles foram chamados para depor em uma comissão de investigação formada por agentes da prefeitura.
A utilização incorreta de um aparelho de raios X, com dosagens de radiação inadequadas, pode causar danos irreparáveis à saúde de quem está próximo a ele durante o seu manuseio. Dependendo do nível de radiação, a pessoa afetada pode apresentar desde náuseas até desenvolver uma doença grave, como o câncer. O Sindicato dos Médicos do Rio condenou a forma como a Prefeitura do Rio tratou o sumiço da aparelhagem de raios X e vai levar o caso ao conhecimento do Ministério Público do Estado (MPE/RJ). O presidente do sindicato, Jorge Darze, considerou como “negligência” a postura do governo municipal de não avisar a população e as autoridades policiais sobre o furto de um equipamento radioativo.
Segundo um funcionário do Hospital Municipal Barata Ribeiro, a equipe de técnicos do setor de Radiologia foi orientada pelos agentes da prefeitura responsáveis pelas investigações a não comentar o roubo com nenhuma pessoa fora do hospital e manter sigilo sobre o assunto. Ele contou que o aparelho roubado é portátil, de pequeno porte. “Desapareceu, simplesmente desapareceu no final de um plantão noturno. Ninguém tem ideia de quem foi e como aconteceu”, contou o funcionário, acrescentando que o chefe do setor de Radiologia, Antônio Aníbal, prestou depoimentos nos últimos dias, numa das salas da administração do hospital. 
Outro funcionário do Barata Ribeiro confirmou as declarações do colega e se disse indignado por ter que prestar vários depoimentos na sindicância interna. “Os funcionários estão revoltados porque estão sendo chamados diversas vezes para contar detalhes de um fato que não presenciamos. O aparelho sumiu e eles nem colocaram outro no lugar, a gente tem que se virar para atender muita gente com poucas máquinas, umas três, no máximo”, disse ele.

Consulta aberta ao Inquérito Administrativo instaurado pela prefeitura do Rio
Consulta aberta ao Inquérito Administrativo instaurado pela prefeitura do Rio

O inquérito administrativo de número processual 09/78/000.031/2013 e resolução 742, que investiga o caso, foi publicado no Diário Oficial do Município no dia 15 de julho de 2013. As informações no processo mostram que ele teve início no dia 8 de março, com uma sindicância administrativa e passou pela Comissão de Ética do Trabalho, pela Procuradoria Administrativa, sendo encaminhado ao Gabinete do Secretário de Saúde e retornou para a Comissão de Ética. Em seguida, o processo tramitou pela Superintendência das Comissões de Ética no Trabalho e está atualmente em análise na Comissão Permanente de Inquérito Administrativo.
O presidente do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, Jorge Darze, disse que o governo municipal foi negligente em não comunicar o roubo do aparelho de raios X à sociedade e por não fazer um registro policial. “Esse fato é gravíssimo, porque está ligado ao roubo de um equipamento de radiação ionizante, que pode causar danos à saúde das pessoas e tinha que ser tratado com muita atenção e não omissão. O governo negligenciou o seu papel público de zelar pela saúde do cidadão e preservar o patrimônio público. Essas são duas obrigações constitucionais”, ressaltou. Darze disse que esse comportamento reflete o atual funcionamento da Secretaria Municipal de Saúde, que não é de coerência na solução de assuntos graves, como o roubo do aparelho do hospital e pela sua inércia mediante casos graves. Na semana que vem, o sindicato vai pedir ao Ministério Público Estadual para intervir nas investigações internas do roubo do aparelho de raios X e apurar o que aconteceu no setor de Radiologia da unidade médica e se o crime tem a participação de prestadores de serviço ou servidores do hospital.

Consulta aberta ao Inquérito Administrativo instaurado pela prefeitura do Rio
Consulta aberta ao Inquérito Administrativo instaurado pela prefeitura do Rio

A Secretaria Municipal de Saúde se posicionou através de uma nota, afirmando que a direção do Hospital Municipal Barata Ribeiro informou que o furto registrado no local aconteceu há sete meses, em fevereiro, e o caso não traz impacto ao funcionamento atual do hospital. O registro policial e os procedimentos administrativos cabíveis foram realizados na ocasião, conforme legislação. Mas a Polícia Civil do Estado informou que até o momento o hospital não procurou ajuda policial.

Pacientes reclamam da demora no atendimento
Na manhã desta sexta-feira (13/9), pacientes esperavam por hora para realizar exame radiológico no Hospital Barata Ribeiro. O frentista Reinaldo Luiz está há seis meses tentando marcar uma cirurgia no hospital e esperou por mais de três horas para fazer um exame de raios X. “Olha o tamanho dessa fila! Claro que estamos aqui esperando por horas e para fazer um simples raios X, sentindo dor e ninguém dá nem mesmo uma satisfação para o paciente. A situação neste hospital tá bem complicada”, reclamou o frentista.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, o roubo do Aparelho portátil de raios X não interferiu no atendimento da unidade. “O hospital conta com três aparelhos de raio-x fixos e três móveis para dar suporte ao atendimento dos pacientes, que ocorre normalmente, sem interrupções”, afirma a nota enviada pela SMS. O hospital Barata Ribeiro realiza uma média de quatro mil atendimentos por mês, segundo dados da SMS.


Pacientes aguardam por atendimento no setor de Ortopedia do Hospital Municipal Barata Ribeiro
Pacientes aguardam por atendimento no setor de Ortopedia do Hospital Municipal Barata Ribeiro

Não importa o tamanho, aparelho de Raio X oferece riscos
O uso do aparelho de raios X, independente das suas especificações, expõe o técnico e o paciente a fontes de artificiais de radiação. Os danos à saúde podem ser maiores se o equipamento radiológico estiver descalibrado, além do seu tempo recomendado para uso ou se o técnico aplicar as doses de radiação de forma inadequada. As explicações são do chefe do Serviço de Radiologia Intervencionista do Hospital Federal dos Servidores, o médico Diogo Aquino, que disse também que o aparelho de raios X só emite qualquer tipo de radiação se ligado à eletricidade e acionado o botão de funcionamento.
O médico radiologista explicou que o aparelho de raios x só emite radiação pela corrente elétrica, diferente do que acontece com os equipamentos de energia nuclear. No entanto, quando acionado o raios x ele atinge às pessoas que estão próximas e é obrigatório o uso dos instrumentos de segurança, como óculos e capotes com placa de chumbo. Outro fator preventivo é a calibragem desse equipamento, que deve ter a dosagem exata de radiação, para não comprometer a saúde. “Esses aparelhos que emitem radiação ionizante devem ser operados por profissionais capacitados, caso contrário, pode causar grandes danos sim”, afirmou Diogo.
O aparelho de raios X tem uma peça fundamental na sua composição e também é a mais cara e visada para revenda. Toda a tecnologia do equipamento é concentrada num tubo, onde acontece o processo de reversão da eletricidade para o raios X. Segundo Diogo, o preço de mercado dessa peça vai de R$ 50 até R$ 500 mil.
A exposição prolongada aos raios X pode ser extremamente danosa ao organismo humano, provocando a destruição de células e levar a mutações genéticas, como acontece com o câncer, ou seja, são processos irreversíveis. Dependendo das doses administradas e o tempo de exposição focados em determinados órgãos, pode até destruí-los. Câncer de pele e leucemia são algumas das muitas doenças provocadas pela radiação ionizante do raios X. As medidas de segurança são fundamentais e obrigatórias para utilização do raios x, com utilização de instrumentos de rádio-proteção, como as blindagens e portas revestidas com chumbo, além dos coletes e óculos especiais. 

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