terça-feira, 29 de abril de 2014

‘A evolução da medicina tem sido útil e de alto valor para a sociedade”, diz radiologista.

Aos 90 anos, sendo 63 de carreira médica, o radiologista sul-mato-grossense Syrzil Wilson Maksoud revela que sempre foi um entusiasta nesta área de diagnósticos. As frequentes novidades no setor e a possibilidade de contribuir com resultados cada vez mais precisos o fizeram fundar uma das empresas mais especializadas no setor em MS, a Di Imagem. Nesta entrevista, ele fala de sua trajetória e como consegue se manter tão lúcido, saudável e trabalhando.
CORREIO PERGUNTA - Dr. Wilson, o senhor é médico há quanto tempo e por que escolheu a radiologia como especialização? Sua carteira de médico é a de número 1 em MS?
No Conselho Regional de Medicina (CRM) é a de número um (01) sim, porque quando dividiu o Estado, o Conselho Federal ligou para a a Associação Médica para fundar o CRM de MS. Nós eramos cadastrados em MT e, depois, com o novo Estado, tinha que haver o CRM. E eu fui indicado pelo Conselho Federal para criá-lo aqui. Formei, então, uma equipe de médicos da Associação Médica e começamos a trabalhar para fazer isso com novas carteiras. Quanto à carreira, clínico há 63 anos e optei pela radiologia médica, que foi descoberta há mais de cem anos e mostra a estrutura do corpo humano. Ela começou numa casualidade, com os ossos da mão. Logo em seguida, criaram-se os aparelhos que, inicialmente, detectavam as doenças do pulmão, do aparelho digestivo e da coluna, principalmente. O progresso da medicina trouxe o ultrassom, que nos ajuda a ver o abdômen, principalmente da mulher, da criança. E eu escolhi esta área porque vi tanta novidade, tantos diagnósticos na radiologia, que me entusiasmou estudar e procurar trabalhar nesta área da profissão.

Então, pode-se dizer que o senhor é pioneiro em trazer aparelhos modernos para o Estado?
Sim, os aparelhos vieram aparecendo com a evolução da medicina, como por exemplo o que vê a densidade óssea; a mamografia, que detecta os tumores da mama na fase inicial e que hoje é uma obrigação a mulher fazer o controle. Depois veio a tomografia, que é a radiografia por cortes tomográficos.

E, mesmo com tantos anos de carreira, e já aos 90 anos, o senhor continua fascinado por tecnologia, por novidades?
Sim, eu gosto muito. Eu trabalhei muitos anos com raios X e também cheguei a trabalhar com o tomógrafo. E quando meu filho se formou, fez a residência em ultrassonografia, ele entrou na sociedade da Di Imagem.

Há tanto tempo na carreira, o senhor poderia definir o que melhorou e o que piorou na medicina ao longo dos anos?
A evolução da medicina tem sido útil e de alto valor para a sociedade, principalmente nesta área que eu escolhi, que evolui muito rapidamente com novos aparelhos.

O senhor acredita que a radiologia oferece uma base para que todas as outras áreas da medicina funcionem melhor?
Não há dúvida. Por exemplo, o coração. Aí entra a parte radiológica para ajudar os cirurgiões do coração. E os tumores, também, principalmente na fase inicial, a contribuição da radiologia é essencial. Outro exemplo é o tumor na mama, se descoberto cedo, tem cura.

O senhor se recorda de algo difícil de ser realizado em sua área no início de carreira e que hoje é muito mais fácil?
Hoje é muito fácil porque temos aparelhos modernos e que fazem os mais variados diagnósticos. A tecnologia digital nos oferece a ressonância magnética, por exemplo. Antigamente, não havia a tomografia e num acidentado, para ver se havia hemorragia cerebral, não tínhamos meios de diagnosticar - o paciente tinha que ir para São Paulo.

O senhor já trabalhou em alguma missão estadual, federal em sua área?
Sim, eu já fui secretário de Educação e Saúde da Prefeitura Municipal de Campo Grande na gestão de Wilson Barbosa Martins. Eu sou cofundador da Unimed; fundei a Associação Médica de MT e depois a de MS; depois disso o Sindicato dos Médicos. Hoje, mesmo aos 90 anos, a idade não alterou a minha mente nem o meu corpo.

E naquela época, como secretário, o senhor chegou a implantar algum programa diferenciado?
Como secretário da Educação e Saúde atendia os pobres, principalmente com fortificantes e vermífugos e também os municípios vizinhos, a ambulância percorria ajudando.

O senhor concorda que a prática médica deve ser pautada pela humildade, prudência, diligência, perícia, compaixão e justiça? 
Com toda a verdade que existe, elas devem ser aplicadas, sim. Eu, particularmente, sempre procurei ajudar as pessoas. Os necessitados, na Santa Casa, naquela época, nunca pagavam nada. Não havia planos médicos, nem cooperativas médicas e então eu me baseei pelo juramento que o médico faz quando se forma, o juramento de Hipócrates.

O senhor acha que faltam estes predicados, atualmente, em muitos médicos no Brasil?
Faltam. Alguns esqueceram desse juramento, mas, de modo geral, eles cumprem os preceitos da honestidade, caridade e ciência, os três princípios que Hipóctares deixou. E Deus me deu saúde - do corpo e da alma - para continuar trabalhando até hoje. Do corpo, preservando meus cinco sentidos.

E a que o senhor atribui esta sua longevidade com tanta altivez e saúde?
Oras, o segredo da longevidade é não fumar, não beber, comer pouco, dormir cedo, atender as funções do organismo sem exagero e não esquecer de agradecer ao Todo-Poderoso a saúde que ele nos der, com toda a humildade. Nós ajudamos Deus a nos ajudar. E como ajudamos a Deus? Fazendo nossa vida controlada. Então, vem a recompensa que Deus nos ajuda também. A oração na minha vida é de muita importância. E na minha atividade como médico ela é mais importante ainda. Eu sempre pedi na oração e agradeci.

Ao longo dos anos, comunicar um diagnóstico ao paciente se tornou mais fácil?
Era difícil antigamente; hoje, modernamente, o médico diz a verdade ao paciente. Porque o profissional está mais preparado, os exames radiológicos, por exemplo, são mais específicos e detalhados e nos ajudam a traçar o perfil ao paciente. É preciso ter este diálogo. Há poucos pacientes para quem não se pode dizer a verdade, mas a maioria fica ciente. É direito de cada um saber.

Hoje, no Brasil, temos um embate: de um lado o governo diz que faltam médicos. De outro, as associações de classe falam que sobram médicos. Na sua opinião, faltam ou sobram médicos no País? 
Sobram nos grandes centros – nas capitais e cidades grandes. E faltam no interior, porque o médico não tem equipamentos e as condições necessárias para o seu trabalho. E esta história vem de longa data.

O que o senhor acha do programa Mais Médicos, que trouxe cubanos para o Brasil?
Eu acho que é um programa muito importante trazer mais médicos que atendam, principalmente, o interior. Mesmo eles tendo alguma dificuldade com o idioma, com a cultura, é válido, afinal, a medicina no mundo é uma só. Mas eu sou a favor de que seja feito um teste, seja renovada a carteira, saber se ele fez o curso corretamente.

Quais os riscos de se medir a qualidade da saúde pela quantidade de médicos ou de hospitais? 
O importante é os médicos terem a sua especialidade e trabalharem em hospitais adequados para internação e atendimento dos pacientes. A qualidade é mais importante que a quantidade. E eu penso que o governo deixa a desejar quando não aplica a quantidade necessária de verba nos cursos de medicina pelo Brasil. A medicina precisa de mais recursos no País.

Temos hoje, no Brasil, um atendimento baseado em um sistema de plantões que não é bom para ninguém: nem para o paciente, nem para o profissional. É possível implantar um modelo mais adequado? 
Um outro modelo seria trazer mais médicos. Você vê as filas que têm nos hospitais, nos postos de saúde e sempre foi assim. O paciente muitas vezes tem que esperar muito tempo porque não há um especialista que possa atendê-lo adequadamente. Eu penso que falta gestão para que a Saúde no País melhore. Veja, para a Copa do Mundo o governo fez tudo não é, gastou uma fortuna! Por que não gasta na saúde?

Quem se beneficia do modo como o sistema de saúde está hoje organizado no País? O sistema atende aos interesses públicos?
Eu penso que atende, não como deveria, mas atende. E isso ocorre por falta de médicos e equipamentos.

Os seus interesses do início de carreira se concretizaram ou o senhor se desviou muito daquilo com o que sonhou?
Eu nunca desviei dos meus sonhos, sempre procurei seguir o juramento de Hipócrates. Eu me dediquei à área que escolhi, uma área que se ampliou. Fundei a Di Imagem, que hoje completa 25 anos.

O senhor acredita que a criação da tomografia revolucionou a medicina?
Sim, assim como a ressonância magnética e o PET CT.

E atualmente, como é o seu trabalho aqui em sua empresa?
Eu deleguei aos filhos o trabalho radiológico, mas acompanho de perto os avanços. Eles se atualizam nos congressos e nas jornadas médicas e eu, com a idade, não viajo mais. Mas procuro ficar atualizado, saber o que há de novo. E, nas minhas horas de folga, eu gosto de ler, principalmente a história dos santos. Sou assíduo frequentador da missa semanal, que me dá conforto grande para prosseguir na vida.

fonte - http://www.correiodoestado.com.br/noticias/a-evolucao-da-medicina-tem-sido-util-e-de-alto-valor-para-a_214638/

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