Enfermagem é uma ciência
cuja essência e especificidade é o cuidado ao ser humano
individualmente, na família ou em comunidade de modo integral e
holístico (num todo indivisível), desenvolvendo autonomamente ou em
equipe, actividades de promoção e protecção da saúde e prevenção e
recuperação de doenças ou de estados de alteração da saúde.
O conhecimento que
fundamenta o cuidado de enfermagem deve ser construído na intersecção
entre a filosofia, que responde à grande questão existencial do homem, a
ciência e tecnologia, tendo a lógica formal como responsável pela
correcção normativa (normas de actuação) e a ética, numa abordagem
comprometida com a emancipação humana e evolução das sociedades.
Para além da Enfermagem
geral existem ainda as Especialidades em Enfermagem:
· A Especialidade de
Enfermagem Comunitária;
· A Especialidade de
Enfermagem de Saúde Infantil e Pediátrica;
· A Especialidade de
Enfermagem de Reabilitação;
· A Especialidade de
Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica;
· A Especialidade de
Enfermagem em Terapia Intensiva;
· A Especialidade de
Enfermagem em Administração.
Os Mestrados e
Doutoramentos na área de Enfermagem têm sido reveladores de promissoras
evoluções desta ciência, no âmbito das constantes investigações feitas
nas mais diversas vertentes da Enfermagem. Para a frequência do curso,
que já é ensino superior, é necessário ter o 12ºAno e concorrer para
poucas vagas e com elevadas médias de entrada.
Origem
da Profissão
A profissão surgiu do
desenvolvimento e evolução das práticas de saúde no decorrer dos
períodos históricos. As práticas de saúde instintivas (por instinto)
foram as primeiras formas de prestação de assistência. Numa primeira
fase da evolução da civilização, estas acções garantiam ao homem a
manutenção da sua sobrevivência, estando na sua origem, associadas ao
trabalho feminino, caracterizado pela prática do cuidar nos grupos
nómadas primitivos, levando em linha de conta a espiritualidade de cada
um relacionada com a do grupo em que vivia. Mas, como o domínio dos
meios de cura passaram a significar poder, o género masculino (o homem),
aliando este conhecimento ao misticismo, fortaleceu tal poder e se
apoderou dele.
As práticas de saúde
mágico-sacerdotais abordavam a relação mística entre as práticas
religiosas e de saúde primitivas desenvolvidas pelos sacerdotes nos
templos. Este período corresponde à fase de empirismo (em que as coisas
se faziam por tentativa e erro sem nenhum fundamento cientifico mas sim
com base na experiência de quem ministrava os cuidados). Essas acções
permanecem por muitos séculos desenvolvidas nos templos que, a
princípio, foram simultaneamente santuários e escolas, onde os conceitos
primitivos de saúde eram ensinados.
Posteriormente,
desenvolveram-se escolas específicas para o ensino da arte de curar no
sul da Itália e na Sicília, propagando-se pelos grandes centros do
comércio, nas ilhas e cidades da costa.
A prática de saúde, antes
mística e sacerdotal (inicia-se no século V a.C., estendendo-se até os
primeiros séculos da Era Cristã), passa agora a ser um produto desta
nova fase, baseando-se essencialmente na experiência, no conhecimento da
natureza, no raciocínio lógico que desencadeia uma relação de causa e
efeito para as doenças e na especulação filosófica, baseada na
investigação livre e na observação dos fenómenos, limitada, entretanto,
pela ausência quase total de conhecimentos sobre a anatomia e fisiologia
do corpo humano. Essa prática individualista volta-se para o homem e
suas relações com a natureza e suas leis imutáveis. Este período é
considerado pela medicina grega como período hipocrático, destacando a
figura de Hipócrates (Hipócrates de Cós - nasceu na Antiga Grécia,
considerado por muitos como uma das figuras mais importantes da história
da saúde – é frequentemente considerado o "Pai da Medicina" ou o "Pai
das Profissões da Saúde"), que propôs uma nova concepção em saúde,
dissociando a arte de curar dos preceitos místicos e sacerdotais,
através da utilização do método indutivo, da inspecção e da observação.
Não há caracterização nítida da prática de Enfermagem nesta época.
As práticas de saúde
medievais focalizavam a influência dos factores socio-económicos e
políticos do medieval e da sociedade feudal nas práticas de saúde e as
relações destas com o cristianismo. Esta época corresponde ao
aparecimento da Enfermagem como prática leiga, desenvolvida por
religiosos e abrange o período medieval compreendido entre os séculos V
e XIII. Foi um período que deixou como legado uma série de valores que,
com o passar dos tempos, foram aos poucos legitimados a aceitos pela
sociedade como características inerentes à Enfermagem. A abnegação, o
espírito de serviço, a obediência e outros atributos que dão à
Enfermagem, não uma conotação de prática profissional, mas de
sacerdócio.
As práticas de saúde pós
monásticas evidenciam a evolução das acções de saúde e, em especial, do
exercício da Enfermagem no contexto dos movimentos Renascentistas e da
Reforma Protestante. Corresponde ao período que vai do final do século
XIII ao início do século XVI. A retomada da ciência, o progresso social
e intelectual da Renascença e a evolução das universidades não
constituíram factor de crescimento para a Enfermagem.
Enclausurada nos hospitais
religiosos, permaneceu empírica e desarticulada durante muito tempo,
vindo desagregar-se ainda mais a partir dos movimentos de Reforma
Religiosa e das conturbações da Santa Inquisição. O hospital, já
negligenciado, passa a ser um insalubre depósito de doentes, onde
homens, mulheres e crianças utilizam as mesmas dependências, amontoados
em leitos colectivos.
Sob exploração deliberada,
considerada um serviço doméstico, pela queda dos padrões morais que a
sustentava, a prática de enfermagem tornou-se indigna e sem atractivos
para as mulheres de casta social elevada. Esta fase, que significou uma
grave crise para a Enfermagem, permaneceu por muito tempo e apenas no
limiar da revolução capitalista é que alguns movimentos reformadores,
que partiram, principalmente, de iniciativas religiosas e sociais,
tentam melhorar as condições do pessoal a serviço dos hospitais.
As práticas de saúde no
mundo moderno analisam as acções de saúde e, em especial, as de
Enfermagem, sob a óptica do sistema político-económico da sociedade
capitalista. Ressaltam o surgimento da Enfermagem como actividade
profissional institucionalizada. Esta análise inicia-se com a Revolução
Industrial no século XVI que termina com o surgimento da Enfermagem
moderna na Inglaterra, no século XIX.
Enfermagem Moderna
O avanço da Medicina vem
favorecer a reorganização dos hospitais. É na reorganização da
Instituição Hospitalar e no posicionamento do médico como principal
responsável por esta reordenação, que vamos encontrar as raízes do
processo de disciplina e seus reflexos na Enfermagem, ao ressurgir da
fase sombria em que esteve submersa até então.
Naquela época, estiveram
sob piores condições, devido a predominância de doenças
infecto-contagiosas e à falta de pessoas preparadas para cuidar dos
doentes. Os ricos continuavam a ser tratados em suas próprias casas,
enquanto os pobres, além de não terem esta alternativa, tornavam-se
objecto de instrução e de experiências que resultariam num maior
conhecimento sobre as doenças em benefício da classe abastada.
É neste cenário que a
Enfermagem passa a actuar, quando Florence Nightingale é convidada pelo
Ministro da Guerra de Inglaterra para trabalhar junto aos soldados
feridos em combate na Guerra da Criméia.
Período Florence
Nightingale
1891, Florence (1820 - 1920) - Enfermeira que criou o conceito moderno de enfermagem.
1891, Florence (1820 - 1920) - Enfermeira que criou o conceito moderno de enfermagem.
Esta mulher em particular,
foi uma referência na enfermagem. Nascida a 12 de Maio de 1820, em
Florença, Itália, era filha de ingleses. Possuía inteligência incomum,
tenacidade de propósitos, determinação e perseverança, o que lhe
permitia dialogar com políticos e oficiais do Exército, fazendo
prevalecer suas ideias. Dominava com facilidade o inglês, o francês, o
alemão, o italiano, além do grego e latim.
No desejo de realizar-se
como enfermeira, passa o Inverno de 1844 em Roma, estudando as
actividades das Irmandades Católicas. Em 1849 faz uma viagem ao Egipto e
decide-se a servir a Deus.
Decidida a seguir sua
vocação, procura completar seus conhecimentos que julga ainda
insuficientes, visita o Hospital de Dublin dirigido pela Irmãs de
Misericórdia, Ordem Católica de Enfermeiras, fundada 20 anos antes.
Conhece as Irmãs de Caridade de São Vicente de Paulo, na Maison de La
Providence em Paris. Aos poucos vai se preparando para a sua grande
missão. Em 1854, Inglaterra, França e a Turquia declaram guerra à
Rússia: é a Guerra da Criméia. Os soldados acham-se no maior abandono. A
mortalidade entre os hospitalizados é de 40%.
Florence partiu para
Scutari (cidade Italiana) com 38 voluntárias entre religiosas e leigas
vindas de diferentes hospitais. Algumas enfermeiras foram despedidas por
incapacidade de adaptação e principalmente por indisciplina. A
mortalidade decresce de 40% para 2%. Os soldados fazem dela o seu anjo
da guarda e ela será imortalizada como a "Dama da Lâmpada" porque, de
lanterna na mão, percorre as enfermarias, atendendo os doentes. Durante
a guerra contrai tifo e ao retornar da Criméia, em 1856, leva uma vida
de inválida. Dedica-se com ardor, a trabalhos intelectuais. Pelos
trabalhos na Criméia, recebe um prémio do Governo Inglês e, graças a
este prémio, consegue iniciar o que para ela é a única maneira de mudar
os destinos da Enfermagem – uma Escola de Enfermagem em 1959.
Após a guerra, Florence
fundou uma escola de Enfermagem no Hospital Saint Thomas, que passou a
servir de modelo para as demais escolas que foram fundadas
posteriormente. A disciplina rigorosa, do tipo militar, era uma das
características da escola Nightingaleana, bem como a exigência de
qualidades morais das candidatas. O curso, de um ano de duração,
consistia em aulas diárias ministradas por médicos.
Nas primeiras escolas de
Enfermagem, o médico foi de facto a única pessoa qualificada para
ensinar. A ele cabia então decidir quais das suas funções poderiam
colocar nas mãos das enfermeiras. Florence morre em 13 de Agosto de
1910, deixando florescente o ensino de Enfermagem.
Assim, a Enfermagem surge
não mais como uma actividade empírica, desvinculada do saber
especializado, mas como uma ocupação assalariada que vem atender a
necessidade de mão-de-obra nos hospitais, constituindo-se como uma
prática social institucionalizada e específica.
Primeiras
Escolas de Enfermagem
Apesar das dificuldades
que as pioneiras da Enfermagem tiveram que enfrentar, devido à
incompreensão dos valores necessários ao desempenho da profissão, as
escolas se espalharam pelo mundo, a partir da Inglaterra. Nos Estados
Unidos a primeira Escola foi criada em 1873. Em 1877 as primeiras
enfermeiras diplomadas começam a prestar serviços a domicílio em Nova
Iorque.
Hoje em dia, temos várias
escolas a funcionar em Portugal, que formam todos os anos enfermeiros
com grau de licenciatura, que infelizmente, se continuam a dirigir aos
grandes centros populacionais para exercer a sua actividade, deixando o
interior cada vez mais sozinho, entregue a um número cada vez menor de
profissionais de saúde.
É um curso que demora
cerca de 4 anos com uma carga horária de base de cerca de 5 mil horas,
onde se vai tomando contacto com a teoria e com a prática a ser exercida
já junto aos doentes nos hospitais, sendo por vezes muito duro de ver
algumas das coisas no dia-a-dia e levando mesmo todos os anos alguns
alunos a desistir dos cursos e a optar por outras áreas.
Enfermagem nos nossos
dias
A enfermagem vê as pessoas
como seres totais (holísticos), que possuem família, cultura, têm
passado e futuro, crenças e valores que influenciam nas experiências de
saúde e doença. Contudo, a enfermagem é uma ciência humana não podendo
estar limitada à utilização de conhecimento relativo às ciências
naturais. A enfermagem lida com seres humanos, que apresentam
comportamentos peculiares construídos a partir de valores, princípios,
padrões culturais e experiências que não podem ser questionados e tão
pouco considerados como elementos separados.
A enfermagem tem-se
desenvolvido num tipo "particular" de conhecimento. É frequente, na
enfermagem, as enfermeiras depararem-se com situações que requerem
acções e decisões para as quais não há respostas científicas. Em várias
situações outras formas de conhecimento provêm da sua própria
experiência como pessoas e compreensão.
O que caracteriza o
exercício de enfermagem é o facto de que ele engloba outros padrões de
conhecimento, além do empírico, inclui aspectos que reflectem crenças e
valores. A pessoa da enfermeira, as pessoas com quem interage, assim
como os conhecimentos próprios que resultam da arte de enfermagem, são
também incluídos. A enfermagem apropria-se de conhecimentos de outras
áreas.
A Enfermagem tem
actualmente uma linguagem própria, constantemente actualizada e editada
por um Conselho Internacional de Enfermeiros (ICN), designada por
Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE). Esta
classificação guia os enfermeiros na formulação de diagnósticos de
enfermagem, planeamento das intervenções e avaliação dos resultados
sensíveis aos cuidados de enfermagem.
Tudo isto tem levado a uma
progressão dos conhecimentos e um aumento substancial do nível de
conhecimentos, com um maior campo de actuação mas sempre virada para
aparte humana das pessoas, não que a parte mais médica não seja
importante, mas por serem os enfermeiros que passam as 24h do junto aos
doentes, que maior disponibilidade têm e maior envolvimento conseguem
com as famílias.
Existe um grande
desenvolvimento da enfermagem quer em termos humanos, quer em termos
técnicos, pois durante a sua formação base, a enfermeira tem de aprender
um elevado número de técnicas, procedimentos, ter elevados conhecimentos
de farmacologia, pois para além de conhecer os fármacos, tem de saber
como administra-los, o que nem sempre é fácil, tem acima de tudo de
saber movimentar-se em vários ramos, ao invés do médico que se sobre
especializa numa área e daí não passa.
Resumindo, cada vez mais o
peso da responsabilidade na organização que são os hospitais, é elevado
e demonstra a importância que a enfermagem tem na sociedade. Tantas
vezes mal tratados, mas sempre as enfermeiras quem primeiro socorre que
aflito está.
Chama-se sempre pela mãe
quando estamos doentes e em sofrimento, a seguir pela enfermeira!
CONCLUSÃO
Muito mais haveria a dizer
sobre uma profissão tão ligada ao sofrimento humano, que todos os dias
tem de gerir os seus próprios sentimentos, colocar de parte
preconceitos, religião, credos, ideologias, pois também os enfermeiros
são seres humanos, e cuidar de todos aqueles que apresentam alterações
do estado de saúde, mesmo quando os próprios não o sabem.
Pelos relatos e histórias
que ouço todos os dias, verifico o quanto é difícil o exercício desta
profissão, mas também sei o quanto se faz para que aos doentes e suas
famílias nada falte que possa por em risco o tratamento da doença.
Foi muito gratificante o
poder aprender um pouco mais da história desta profissão, sei que muito
mais ficou por dizer, sei que deixo uma porta aberta para um posterior
estudo mais profundo e espero que possa contribuir para uma melhor
compreensão desta, pelo menos junto dos meus colegas.
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