Um simples exame de urina pode revelar mais sobre os ossos de uma pessoa
do que os raios-X, afirmaram cientistas americanos nesta terça-feira
após publicar os resultados da fase inicial de um estudo financiado pela
Nasa.
A técnica ajudaria os astronautas a lidar melhor com a perda de
massa óssea que ocorre com a falta de gravidade do espaço e pode,
ainda, ter implicações mais amplas para pessoas que sofrem de doenças
como osteoporose ou cânceres que possam se espalhar para os ossos.
"Atualmente
não há bons métodos para detectar a perda de ossos antes de que tenha
havido uma grande perda de massa óssea", disse o autor principal da
pesquisa, Ariel Anbar, professor do departamento de Química e Bioquímica
da Universidade estadual do Arizona (ASU, sul).
"É algo novo que
estamos desenvolvendo. Não é uma técnica com que (a Nasa) tenha
trabalhado antes e por isso investiram na nossa pesquisa para ver se há
uma forma melhor ou complementar de tratar a questão", declarou à AFP.
O
método mede os isótopos de cálcio, que são essencialmente átomos de um
elemento que difere em massa. Os isótopos estão presentes na urina de
uma pessoa e servem como indicador da fortaleza dos ossos, baseado no
balanço dos minerais que contêm.
O estudo mediu a perda de massa
óssea em uma dezena de voluntários sadios que fizeram períodos de
repouso continuado em uma cama durante 30 dias. Permanecer deitado na
cama é a situação mais próxima na Terra às condições de falta de
gravidade no espaço e também pode causar perda óssea.
O novo exame demonstrou ser capaz de detectar a perda de massa óssea em apenas 10 dias depois de iniciado o período de repouso.
"Os
ossos se formam e destroem de forma contínua", explicou o co-autor do
estudo, Jospeph Skulan, professor adjunto da ASU que projetou o modelo
matemático para prever a perda de proporções de isótopos de cálcio no
sangue e na urina.
"Em pessoas saudáveis e ativas, estes processos
estão em equilíbrio. Mas se uma doença altera este equilíbrio, então
ocorre uma mudança na proporção de isótopos de cálcio", acrescentou.
Os
pacientes não tiveram que se submeter a exames de raios-X, nem usaram
marcadores artificiais, portanto não foram expostos à radiação.
Mas
embora o estudo deste conceito pareça simples para o paciente, os
métodos de espectrometria de massa utilizados para as análises são muito
mais complicados e provavelmente levará anos antes de o exame poder
chegar ao público, explicou Anbar.
"A pesquisa propõe um novo e
excitante enfoque do problema", disse o mexicano Rafael Fonseca, chefe
do departamento de medicina da Mayo Clinic, no Arizona.
Fonseca é
especialista em mieloma múltiplo, um tipo de câncer que pode destruir os
ossos. Ele não participou do estudo do PNAS, mas trabalha com seus
autores em uma pesquisa colaborativa baseada em suas conclusões.
"Atualmente,
a dor é principalmente o primeiro indicador de que o câncer está
afetando os ossos. Se pudéssemos detectá-lo antes com um exame de urina
ou de sangue em pacientes de alto risco, poderíamos melhorar
significativamente seus cuidados", afirmou Fonseca.
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