Poucos técnicos de raio-X, sistema de exaustão imundo, impressora que não imprime, fedor de cadáver putrefeito perto da sala de necropsia.
IMLs de SP devem receber mais técnicos neste ano
Esse é o cenário que a Folha encontrou ao visitar cinco dos seis postos do IML (Instituto Médico Legal) de São Paulo nas últimas três semanas. Não foi permitido acesso ao posto central, no Hospital das Clínicas.
Editoria de Arte/Folhapress
Em São Paulo, que teve 1.327 assassinatos até novembro, há só um técnico de raio-X por plantão para os postos do IML, para onde vão mortos por causa violenta ou suspeita.
Quando chamado, o plantonista precisa se deslocar até 36,5 km entre as unidades, ou 50 minutos sem trânsito. O plantão no IML é de 12 horas.
Em novembro, por exemplo, quando a PM Marta Umbelina da Silva, 44, foi morta com ao menos dez tiros nas costas, o exame foi feito horas depois. Faltava o técnico.
Segundo funcionários, a direção do IML chega a pressionar a equipe para liberar os corpos com mais rapidez, pois familiares reclamam da demora da necropsia.
Um médico revelou já ter liberado corpos baleados sem ter feito o raio-X. Outro contou ter esperado três dias para o exame. O corpo, diz, entrou em decomposição.
O exame serve para saber em que parte do corpo uma bala se alojou. Sem ele, o médico tem que procurar a bala no corpo, o que demora mais.
Falta de material adequado para trabalho foi outro problema relatado à Folha.
O IML de São Paulo comprou por R$ 157 mil, em maio, duas máquinas para "embalar" corpos e conter o mau cheiro. Uma delas foi enviada ao IML central. A outra, mandada à unidade oeste (Vila Leopoldina), nunca funcionou e está abandonada, dizem funcionários.
O problema é que os corpos não passam pela entrada do equipamento, pois cadáveres putrefeitos ficam inchados por gases e mantêm os braços abertos, em posição conhecida como "lutador".
IML às moscas mortas embaixo de balança quebrada na sala de necropsia do IML da Vila Leopoldina, em São Paulo
Cortar ossos também já foi um problema para médicos legistas. Em 2009, funcionários do IML Leste 1, em Artur Alvim, arrecadaram dinheiro para comprar uma serra elétrica. Antes, o procedimento era com um serrote comum.
No local, há mato alto no entorno, falta bebedouro para o público e papel higiênico.
A vaquinha é um expediente comum também na zona norte, no posto do Mandaqui, para comprar água, sabonete e itens de higiene pessoal.
Em outra unidade, na Vila Leopoldina, zona oeste, o cheiro forte de corpos em decomposição chega a 10 metros da sala de necropsia. O sistema de exaustão, que impediria a concentração do odor, não tinha o filtro limpo havia oito anos, dizem funcionários.
Assim que a Folha questionou a Secretaria de Estado da Segurança Pública sobre o problema, o filtro foi trocado.
Na sala, moscas mortas estavam na mesa. E a impressora do posto quebrou, o que impede a emissão de laudos.
SEM USO
Aberto há dois anos, o IML Leste 2, em São Mateus, tem uma sala de necropsia pronta, sem uso. O local carece de ajustes, como a troca do encanamento -que, por ser muito fino, pode entupir facilmente com cabelos ou ossos. Mais: a tubulação está ligada à rede comum de esgoto, o que pode causar contaminação -o sistema terá que ser mudado.
A sala será aberta em 2014.
A Folha foi ao posto da zona sul, no Brooklin, por volta das 21h, após o fechamento da unidade ao público, percorreu a unidade e não viu funcionários. Foi possível entrar em uma sala onde havia um cadáver. A reportagem saiu sem ter sido notada.
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