Pacientes brasileiros estão sendo expostos sem necessidade à radiação em
exames de raios-X e tomografias.
A constatação é de pelo menos cinco estudos publicados nos últimos anos na
revista científica "Radiologia Brasileira", que reúnem dados de hospitais de
São Paulo, Rio de Janeiro, Minas, Paraná e Pernambuco.
Segundo os pesquisadores, as razões vão desde um maior número de exames
feitos sem necessidade a equipamentos radiológicos descalibrados e
funcionários mal treinados sobre a dose de radiação mais adequada.
O problema é global e afeta principalmente países com níveis elevados de
tratamento de saúde, segundo relatório da ONU divulgado no mês passado em
Genebra.
Anualmente são feitos 3,6 bilhões de radiografias no mundo, um aumento de 40% em relação à ultima década. Em muitos países, a exposição radiológica médica já supera os casos de exposição por fontes naturais (radiação solar, por exemplo).
Anualmente são feitos 3,6 bilhões de radiografias no mundo, um aumento de 40% em relação à ultima década. Em muitos países, a exposição radiológica médica já supera os casos de exposição por fontes naturais (radiação solar, por exemplo).
Radiologistas e físicos ouvidos pela Folha dizem que o
Brasil segue a mesma tendência de aumento, mas não há estatísticas sobre o
nível de exposição radiológica a que o paciente é exposto durante os exames.
Os poucos estudos referem-se a serviços de saúde isolados e usam diferentes
metodologias.
Também são isoladas as iniciativas para se reduzir as doses de radiação. "Eu
posso fazer uma tomografia de tórax com uma dose de 20 ou uma dose de 10 e
chegar ao mesmo diagnóstico", diz Marcos Menezes, diretor da radiologia do
Instituto do Câncer e do Sírio-Libanês.
Segundo ele, cada perfil de paciente (gordo, magro) exige uma dose diferente
de radiação. "Mas muitos serviços adotam protocolos de doses altas porque,
quanto maior a dose, melhor é a imagem."
O CBR (Colégio Brasileiro de Radiologia) acaba de criar sua primeira
comissão de radioproteção, que vai elaborar diretrizes sobre o nível
radiológico adequado em diferentes exames de imagem.
"É preciso difundir entre os médicos e a população que os exames que
envolvem radiação ionizante só devem ser pedidos em caso de real
necessidade", diz Sebastião Mendes Tramontin, presidente do CBR.
Editoria de
Arte/Folhapress
DOSES DE RADIAÇÃO
A medida tem apoio da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), que
coleta dados no país sobre as doses de radiação recebidas por pacientes em
mamografias, radiologias pediátricas, de tórax e intervencionistas.
A exposição a níveis altos de radiação pode causar de lesões graves
(queimadura e queda de cabelo) à morte. Mas isso dificilmente ocorre em um
exame radiológico.
Outra
possibilidade são os chamados efeitos estocásticos, em que a probabilidade
de ocorrência de um câncer, por exemplo, é proporcional à dose de
radiação recebida.
Porém, esses efeitos --que constam na literatura internacional-- foram
calculados a partir de dados obtidos com a população sobrevivente de
Hiroshima. "Não sabemos em que dose isso pode acontecer em um exame. Por
isso, diminuímos a dose ao menor valor possível para reduzir o risco",
explica a física Helen Khoury, da Universidade Federal de Pernambuco.
Khory acrescenta: "O risco zero seria não fazer a imagem. Mas aí eu também
não tenho a imagem." Muitos estudos dizem que o corpo humano tem a
capacidade de restaurar o dano celular causado pela baixa radiação.
"Os benefícios obtidos com os exames radiológicos são superiores aos
eventuais riscos da exposição à radiação", afirma Tramontin.
Uma portaria do Ministério da Saúde estabelece os níveis máximos de
exposição à radiação para profissionais de saúde, mas exclui pacientes que
passam por procedimentos radiológicos -por não existir um limite.
A boa notícia é que os novos tomógrafos já têm softwares que modulam a dose
da radiação de acordo com o peso. "Assim, temos a certeza de que estamos
usando a menor dose possível", diz o radiologista Márcio Garcia.
Tomografia é o exame que mais emite radiação
Um dos grandes avanços da medicina, a tomografia computadorizada é hoje o
exame que emite mais radiação ionizante.
A quantidade chega a ser dez vezes superior ao aparelho de raios X
convencional. Porém, o exame produz imagens muito mais nítidas.
Os especialistas afirmam que, na indicação da tomografia, o médico deve
sempre avaliar a relação custo/benefício.
'Se ela não vai fazer uma diferença, não deve ser feita. Um exemplo clássico
é a avaliação da sinusite. Usa-se muito a tomografia dos seios da face, mas
um raio-X já seria suficiente para dar o diagnóstico', alerta o físico em
medicina Renato Dimenstein.
Em mãos mal treinadas, a tomografia também pode causar problemas como os
ocorridos recentemente nos EUA, em que vários pacientes sofreram queda de
cabelo em razão da dose excessiva de radiação aplicada. No Brasil, não há
relatos deste tipo.
Para Dimenstein, as pessoas devem exigir mais proteção e informações sobre a
radiação que recebem durante os exames.
No Hospital Infantil Sabará, no Instituto de Câncer do Estado de São Paulo e
no laboratório Fleury, por exemplo, cada paciente tem um registro da
radiação recebida.
Fonte: Folha.com / CONTER
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