Publicado em 06/05/2011
Tags:
Radioatividade,
Arte e ciência
Exposição fotográfica relembra o maior acidente radiológico
do país e homenageia bombeiros, enfermeiras, militares e policiais que
ajudaram na descontaminação de Goiânia.
Em 1987, a América Latina viveu seu primeiro e maior acidente radiológico,
quando 20 gramas de césio-137, presentes dentro de um aparelho de
radioterapia desativado, caíram nas mãos de dois catadores de sucata de
Goiânia. O elemento radioativo despertou a atenção das pessoas por seu
brilho azul e logo desencadeou um processo de contaminação.
“As mãos foram as primeiras partes do corpo afetadas nas vítimas do césio”
Quase vinte e cinco anos depois, a exposição fotográfica ‘Mãos de césio’ relembra essa tragédia, homenageia as suas vítimas e também os trabalhadores que atuaram na descontaminação da cidade.
“As mãos foram as primeiras partes do corpo afetadas nas vítimas do
césio e também simbolizam o trabalho heroico dos que colocaram a mão na
massa para limpar o lixo radioativo”, explica a socióloga Gomes de
Oliveira, coordenadora do evento.
A mostra reúne mais de 20 painéis com depoimentos de pessoas que
estiveram envolvidas no acidente e fotos históricas dos acervos da
Associação das Vítimas do Césio 137 de Goiânia (AVCésio), do Programa
Memória Roberto Pires e do Centro de Pesquisa e Documentação do Jornal
do Brasil (CPDoc JB).
- A fotografia mostra policiais militares em cordão de isolamento para conter moradores de Goiânia que tentavam impedir o enterro de uma das vítimas do césio-137. (foto: CPDoc JB)
As imagens apresentam os efeitos físicos do césio sobre as suas
vítimas e também o preconceito enfrentado até hoje. Um dos exemplos mais
fortes da segregação foi capturado em uma fotografia que mostra
policiais contendo a população goianense, que, com medo da contaminação,
tentava impedir o enterro de uma das vítimas na cidade.
A exposição revela ainda detalhes curiosos sobre as soluções que
foram cogitadas para o lixo nuclear depois do acidente. Uma das ideias
discutidas, que chegou a ser aprovada pelo então presidente José Sarney,
era estocar os rejeitos na Serra do Cachimbo, no Pará, em uma área
militar próxima à reserva indígena dos Kayapós.
Reflexão na tela do cinema
- O festival Urânio em Movi(e)mento reúne 40 filmes internacionais sobre a temática da energia nuclear. (foto: Sofia Moutinho)
A exposição de fotografias faz parte das atividades do 1º Festival Internacional de Filmes sobre Energia Nuclear na América Latina – Urânio em Movi(e)mento.
O evento, que acontece de 21 a 28 de maio no Rio de Janeiro, vai contar
com 40 filmes internacionais e três produções brasileiras sobre a
energia nuclear.
Entre os filmes nacionais, está o longa Césio 137 – O Pesadelo de Goiânia,
de Roberto Pires, que faz uma dramatização do acidente. Suspeita-se que
o próprio diretor do filme, falecido em 2001 em decorrência de um
câncer, tenha sido uma das vítimas do césio.
“O festival pretende informar a sociedade e estimular as produções
independentes sobre energia nuclear e todo o ciclo nuclear,
especialmente sobre exploração, mineração e o processamento de urânio”,
afirma Oliveira.
Depois do festival, será criada uma cinemateca com todo o material
enviado, batizada de ‘Arquivo amarelo’, em referência à cor usada para a
energia nuclear. A ideia é disponibilizar os filmes para todas as
escolas, universidades e instituições em geral interessadas nessa
temática tão polêmica.
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